O que fez o último disco do Therion, Theli, tão bom como
foi, foi a combinação da beleza sinfônica e da crueldade do metal. Também é um
disco que contém muita emoção e sentimento, algo que falta em muitos
lançamentos no metal esses dias. Celebrando seu décimo ano de existência,
Therion lançou "A' Arab Zaraq Lucid Dreaming", que é uma coletânea de
materiais diferentes antigos do Therion, junto com algum material raro/novo.
Esse lançamento também marca (celebridade?) as presenças de Dan Swano do Edge
of Sanity, Peter Tagtgren do Hypocrisy, e Tobbe Sidegard do Necrophobic. Eu
tive a oportunidade de bater um papo com o guitarrista/vocalista Christofer
Johnsson sobre o novo lançamento do Therion, entre outras coisas.
CoC: Fale-me sobre o novo lançamento de vocês, o que contém
nele, e por que você o lançou?
Christofer Johnsson: É um CD de comemoração do décimo
aniversário, então não é um disco de verdade, mas sim apenas um lançamento. Nós
realmente não planejamos lança-lo no começo, tínhamos apenas algumas sobras do
Theli que estavam prestes a ser lançadas como single, as primeiras três músicas
desse CD. Mas a Nuclear Blast da Alemanha queria que a gente incluísse uma
música do Iron Maiden que fizemos para um disco japonês de tributo, e também
tínhamos essa música do Running Wild que a gente não queria [incluir, mas nós a
gravamos] apenas pra gente porque costumávamos tocá-la ao vivo. Eles quiseram
inclui-las num mini-CD, mas mini-CDs são ruins de promover e manufaturar como
um CD normal, mas se vendessemos por um preço mais barato as gravadoras não
conseguiriam nada além de que os fãs teriam de pagar muito por apenas cinco
músicas. Mas então eu disse, "Hey, já fazem 10 anos, então poderíamos
fazer algo com isso", então fomos ao estúdio novamente e fizemos uma
regravação de "Symphony of the Dead", outro cover que foi "Here
Comes The Tears" do Judas Priest, e incluimos uma trilha clássica que fiz
para um filme. Além disso, bem antes de irmos ao estúdio, decidimos fazer um
experimento em que pegamos a fita original com a trilha clássica e adicionamos
guitarras, bateria, e baixo à ela, e funcionou muito bem, então decidimos
incluir isso também. Ao invés de termos um single, nós tivemos um disco
inteiro. Claro, é apenas um lançamento de aniversário pros fãs do Therion, não
é realmente um novo disco.
Visto que vocês já completam 10 anos, diga-me sobre algumas
experiências boas ou ruins que o Therion passou?
Maior parte das experiências ruins acabaram sendo boas no
fim porque aprendemos algo com elas. Durante os anos difíceis, quando fizemos a
primeira turnê européia, quando estávamos na estrada com um micro-ônibus, nem
mesmo uma van mas sim um mini-ônibus Japonês. Nós praticamente perdemos
dinheiro em todos os shows por causa da despesa que tínhamos que cobrir em
merchandise [vendas]. E toda a confusão com gravadoras. Trocamos de gravadoras
como cuecas no começo, trocando a cada disco até o "Lepaca Kliffoth",
que foi nosso quarto disco. Então acho que todas as experiências ruins acabaram
sendo necessárias pelo que somos hoje.
Então você conseguiu estabilidade com a Nuclear
Blast?
Sim. Primeiro porque eles nos trataram muito bem, mesmo que
o "Lepaca Kliffoth" não têve o sucesso era esperado. Eles tratam
todas as bandas [da gravadora] muito bem, mesmo que elas não vendam muito. Eles
correram um grande risco quando gravamos o "Theli", que custou em
torno de 45.000 dólares. Vendemos em torno de 22.000 cópias do "Lepaca
Kliffoth" na Europa, e eles nos deram essa qüantia [de dinheiro] que era
mais que o dobro do que nos ofereceram no contrato. Eles disseram "não se
importem com o contrato, apenas vão ao estúdio e façam o disco". Isso é
muito corajoso, eles poderiam ter perdido uma fortuna, então devemos muito um
grande obrigado a eles. Agora as coisas estão indo bem, e estamos tendo toda a
atenção que precisamos da gravadora para melhorarmos cada vez mais. Além de
eles serem brilhantes homens de negócios, são também grandes fãs da música que
vendem, o que é muito importante. O dono da gravadora é muito pé no chão. Se
você tem um problema, você pode ligar pra ele diretamente e ele pode resolver
[o problema] pra você. Não é como se você tivesse aquele cara intocável que é
dono da gravadora e que apenas fica ganhando dinheiro de todos. Ele está
disposto em trabalhar muito e isso te faz sentir muito melhor. Somos mais como
uma equipe, não temos apenas uma relação de negócios.
O quanto o "Theli" vendeu, á propósito?
Na Europa, em torno de 50.000 CDs originais foram vendidos.
Fitas cassetes originais foram lançadas na Europa também. De certo modo, isso
realmente conta visto que as pessoas que compram as fitas originais são tão fãs
quanto alguém que compra o CD pelo preço todo. Com fitas cassetes originais, eu
não sei. Talvez 55 a 60. [mil]. Hoje, acho que vendemos 2000 CDs originais pelo
preço completo na Rússia, o que é ótimo também. Nos EUA, não muito bem,
infelizmente. EUA e Canadá juntos, mal
chegaram nos 5000, que é nossa média de todos os discos nossos, vendemos 5000
lá. É realmente estranho, é como se qualquer coisa que lançacemos, ainda
vendesse 5000. Então acho que temos fãs muito leais do outro lado do mundo, o
que é uma coisa positiva, mas também negativa porque só chegamos a esse número.
E com a inauguração do escritório da Nuclear Blast na America, estou muito
otimista pelo futuro.
Sua escolha de covers de bandas como Running Wild, Judas
Priest, e Iron Maiden...o instrumental dessas bandas influenciaram no som do
Therion em alguma época em específico?
O Scorpions, se você acreditar, foi a maior influencia pra
gente. Scorpions dos anos 80 não é o meu favorito, e por favor note que o
Scorpions nos anos 90 é a pior porcaria que posso imaginar. Mas o Scorpions nos
anos 70 foi uma das melhores bandas de hard rock do mundo, e poucas pessoas
conhecem. Eles foram tão brilhantes nessa época e me deram muita inspiração,
especialmente pela harmonia das guitarras, e eu até mesmo roubei um riff e o
coloquei em uma das músicas do "Lepaca Kliffoth". Muitas pessoas me
disseram "wow, esse riff é tão legal", e eu disse "é um riff dos
Scorpions". Então fizemos o cover dos Scorpions, "Fly to the
Rainbow", que é do segundo disco deles de 1974. Muitas pessoas disseram
sem saber de onde era, "hey, essa nova música é bem legal, um pouco
diferente do Therion, mas bem legal" e quando eu digo a eles que é dos
Scorpions, eles não querem acreditar. É algo que realmente queríamos fazer, uma
retribuição aos Scorpions. Gostamos muito de Maiden, crescemos ouvindo eles. O
mesmo pra Judas Priest, dos anos 70, 80, até 90, Judas Priest foi muito bom, e
uma das minhas bandas favoritas falando de gosto musical, não que influencie
minhas composições. Pra falar a verdade, não sou muito fã de Running Wild, tenho
só um disco, o "Under Jolly Roger" que é muito bom. Essa música em
particular é boa, e funciona muito bem ao vivo, então tocamos muito ela ao
vivo. Especialmente na Alemanha, onde não temos que cantar o refrão porque o
público faz isso pra gente.
Você compôs uma trilha sonora há pouco tempo. Sobre o que
era o filme?
É um filme sobre arte, então é como, você descobre e me diz!
Eu gosto de filmes cultos, mas filmes artísticos ás vezes são muito pesados pra
mim. Não vejo o ponto ou significado ou mensagem do filme, mas é como um lindo
quadro. É difícil explicar sobre o que é.
Ele te procurou pra fazer a trilha?
Ele ouviu "Theli" e achou impressionante, e me
perguntou se eu gostaria de fazer algo fora do metal, apenas música clássica
com cantores de ópera. Eu também adicionei alguns teclados em algumas partes
para ter mais clima de filme, então apenas 5% são teclado pra uma sensação
atmosférica. Foi um grande desafio.
Eu soube que o Lars (Rosenberg, baixista) e o Jonas
(Mellberg, guitarrista, tecladista) deixaram a banda. Quais foram os motivos
para suas saídas?
Eles foram demitidos por problemas com álcool. Jonas começou
a beber no estúdio. Enquanto fazíamos o cover do Maiden, ele ficou bravo e foi
embora no meio da sessão, me deixando com uma fita inacabada. Foi uma briga que
ele teve com o técnico de som, ele estava bêbado, portanto agindo como um
idiota, e ele foi embora no meio do negócio, então claro, o demitimos. O álcool
aumentou os problemas pessoais dele a limites que eram inaceitáveis. Pelo Lars,
que era amigo meu há oito anos, foi bastante triste, mas no fim, ele tomou uma
decisão consciente entre a banda e o álcool, e ficou com o álcool. Ele sempre
foi um beberrão, e depois de um tempo, percebemos que ele estava tocando muito
mal, então nós [como banda] começamos a beber cada vez menos. Mas ele bebia
cada vez mais, e sua performance estava muito ruim e nós falamos pra ele
"pega leve, beba depois do show. As pessoas estão pagando um bom dinheiro
pra nos ver tocar ao vivo, é muito desrespeitoso se importar mais em ficar
bêbado do que fazer um bom show". E um dia, ele caiu de bunda no palco
porque estava muito bêbado, e isso foi a gota d'água pra gente. Demos uma
chance pra ele, e muitas outras, mas nunca houve nenhuma melhora da parte dele.
O desrespeito dele pela gente e pelo público nos shows resultou na gente não
querer fazer mais nada com ele como pessoa e como músico. Ele foi então pra
América do Sul e ficou morando com algum fã idiota que ele conheceu quando
estávamos lá. Depois ele foi despejado pelo fã, então acho que isso o fez
acordar porque fiquei sabendo que ele parou de beber. Acho que ele teve que ir
até o fundo do poço, ser despejado por um fã e ir morar na rua, e talvez o
cérebro dele tenha começado a funcionar novamente. Realmente é uma pena, porque
ele era um dos melhores baixistas aqui em Estocolmo, e agora ele é um dos
piores.
E finalmente, que outras possibilidades musicais você acha
que o Therion talvez possa explorar nos próximos discos?
Nunca se sabe. Eu sempre quero fazer algo novo. Foi muito
bom eu ter feito a trilha sonora porque eu me aprimorei na música clássica, e
eu acho que o próximo disco poderia ter sido o primeiro disco previsível do
Therion se eu não tivesse feito essa trilha sonora clássica, porque todo mundo
acharia que faríamos coisas mais clássicas no próximo disco, poderia ter
acontecido. Sempre quero fazer algo completamente diferente e as pessoas dizem
"hey, o que é essa merda? É Therion?". Não sei que direção tomar no próximo
disco. Temos algumas músicas até aqui, e gravaremos lá pro fim do ano, como
Dezembro. Pelas músicas feitas até aqui, eu diria que ainda está clássico, e
ainda usamos corais operísticos, mas não há muitos clichês clássicos. Se AC/DC
tocava clichês do rock and roll, então tocamos clichês clássicos. Se você ouvir
só a música clássica no "Theli", não há originalidade, apenas tocamos
música clássica. A trilha sonora é um pouco mais original, mas eu quero ir além
disso. Quero fazer música clássica original pra metalizar e fazer músicas pro
Therion. E quero também incluir muitos elementos que nunca usamos. Acho que
seremos mais épicos. Não quero dizer gothic porque não há outra banda a qual
possa me referir que se rotulem de gothic, definitivamente nada como Sisters of
Mercy ou algo parecido. Eu diria épico. Não é a palavra mais apropriada, mas ao
menos é a que mais chega perto a qual possa pensar.
Entrevista feita por Adam Wasylyk, 12/8/1997
Tirada do Chronicle of Chaos - http://www.chroniclesofchaos.com/