Suponho que não haja ninguém entre os fãs do Therion que não
saiba quem é Piotr Wawzeniuk. Ele era o baterista do The Beast, e vocalista
também. Presente durante muitas turnês, sua voz pôde ser ouvida nas faixas
bônus do SOTR e também no último disco. Não era muito fácil encontrar
informações sobre esse músico, então decidi mudar isso. Curtam a entrevista!
Oi! Uma pergunta corriqueira pra começar: Como sua aventura
com o Therion começou? Como conheceu o Christofer?
Piotr: Christofer foi trazido pra um ensaio do Carbonized
pelo Lars Rosemberg. Junto com Christofer, ele trabalhou numa estamparia. Algum
tempo antes, ele tinha demitido nosso guitarrista Jonas Derouche e nós marcamos
um horário pra uma gravação no estúdio Sunlight e nós também tínhamos o contrato
pra cumprir. Depois de 3 semanas e 12 ensaios nós tínhamos que estar
preparados, e eu acho que realmente estávamos, lembrando da nossa técnica
naquela época.
Como você se lembra daquela época, em que o Therion não era
tão popular como agora?
Não era sempre divertido. Quando Christofer estava se
lamentando porque Oskar - o baterista - quis deixar a banda pra se tornar um
limpador de chaminé (fato verídico!), eu me ofereci pra substitui-lo como
baterista. Christofer estava ciente de que eu não tinha um "double
kick", mas eu comprei um depois de uns dias, e uma semana depois de alguma
maneira aprendi como usar ele corretamente. Era um pouco estranho tocar coisas
que pertencem aos outros. No terceiro disco nosso grupo começou a cooperar
muito bem, fazendo algo sozinhos, algo que finalmente poderíamos dizer que era
apenas nosso. Nos torturávamos viajando com microônibus, não dormindo o
suficiente, e fumando e bebendo muito. O que era pior, durante aqueles anos, as
muitas viajens nos deram poucas coisas na questão artística e nos deu muito
pouco financeiramente (digo aluguel, comida, esse tipo de coisa), mas
socialmente conhecemos muitas pessoas legais.
Como você reagiu ao ver o grande sucesso do Theli? Você
esperava isso quando estava gravando o material pra esse disco?
Não, não esperava. Decidimos fazer esse disco, gastar todo
dinheiro que tínhamos, e fazer a Nuclear Blast falir. Mas não foi bem assim.
Instrumentalmente (ou como dizer), claro, como baterista, esse disco, ao lado
do disco do Carbonized "Screaming Machines", foram os que me deram
mais felicidade. Gravados esses discos, agora minha única ambição é tocar bem e
de um modo simples.
Por que você saiu quando tudo começou a dar
certo?
Junto com Christofer, seis mêses antes da gravação,
decidimos que eu iria sair quando acabasse. Eu prometi participar da gravação,
parar de tocar ao vivo depois na turnê do "Lepaca Kliffoth", e então
sair. Eu quis aprender, estudar. Desde essa época tenho estudado. Eu não
poderia saber que o disco receberia tantos elogios. De qualquer modo, eu
aprendi algo com essa época. Durante aqueles poucos anos, eu cantei em pequenas
turnês e festivais. Eu poderia tocar e finalmente curtir meu trabalho que
estava completamente diferente de viagens-de-longa-distância por microônibus.
Que grandes influências você tinha durante a gravação e
composição dos discos dos "velhos tempos", durante o período do
"Symphony Masses", "Lepaca" e "Theli"?
A atitude de Christofer sobre os outros comporem é simples:
Se você escreve uma música no espírito do Therion, sempre hpa uma possibilidade
dela entrar no CD. Exceto doom, não sou bom em compor metal. Fico feliz de ele
finalmente ter encontrado bons companheiros - o trabalho que fizeram nos
últimos discos é muito bom. Falando sobre gravação, eu tive carta branca pra
tocar bateria e cantar, mas outras coisas pude apenas sugerir. Em alguns raros
momentos eu tive uma boa influência na banda, e pronto. Algum dia, Christofer e
eu, tristes, bebendo num bar, e mais ou menos um ano depois de lançarmos o "Ho
Drakon", Christofer estava sem esperança e ele quis acabar com o Therion
devido aos maus resultados. Além disso, algumas idéias que tivemos poderiam ser
usadas em outras combinações. Ele perguntou se valia a pena continuar fazendo e
eu propus a ele gravar mais um disco e então ver o que acontecia. Por que não?
Então, começamos o "Lepaca Kliffoth".
O que você acha do último disco do
Therion?
SOTR é um grande passo pra atrás em comparação com o
anterior - esqueci o nome do disco (Deggial - Thor). Pro meu gosto, é muito
"inner". Pessoalmente, prefiro tocar no estilo barroco. As pessoas
podem achar o que quiser dos novos CDs, mas as músicas que mais gosto são as em
que eu participo. Entretanto, minha voz, depois de uns anos em coma, está
voltando bem devagar. Talvez por isso gosto de ouvir tanto.
E qual o disco do Therion que você gosta
mais?
Por questões sentimentais, Theli. Por questões artísticas,
os mais novos.
Você ouve Therion freqüentemente?
Mais quando tem pessoas bebendo na minha casa e quero me
gabar. Pra impressionar eu os forço a ouvir Carbonized, pra cerveja cair melhor
e The Robots. Pela admiração e tapa na costa, Therion. Eu sei, sou um cara
convencido...
A pergunta que pode ser respondida de várias formas, haha, o
Therion ainda é o Therion pra você?
Responderei assim: Therion é Therion enquanto Christofer
quiser. Ele muda o estilo dos discos dele de modos versáteis e dinâmicos sempre
tão suavemente.
O que você acha das pessoas que substituiram você no
Therion?
O baterista alemão no Vovin atrapalhou um pouco, mas esse
produtor, Slezak, é um cara difícil de lhe dar. Sami gostava de se mostrar,
também. O baterista nos últimos discos parece ser um bom músico. Ele toca com
coerência.
Você trabalhou com Christofer também no Carbonized. Pode
falar mais desse projeto?
Lançamos 3 discos, e nenhum deles venderam mais que sete
mil. Aconteceu pela música (mas falta de vontade pra promover também) que, no
terceiro CD "Screaming Machines" era meio grind ou death ou sei lá.
Era um projeto ambicioso, um teste pra alcançar fronteiras de bons e maus
gostos, possibilidades técnicas, paciência de gravadoras e engenheiros de som.
No começo, quando Chris e eu não estávamos na banda (fim dos anos 80) eram
apenas uma banda comum de death metal.
Não muito tempo atrás Christofer estava num projeto
parecido, Demonoid, que tinham os irmãos Niemann (guitarristas no Therion) e o
baterista que toca no último disco do Therion. Você ouviu o disco deles?
Não, eu não, mas eles tem que fazer algo com a energia deles
- tinham que fazer algo além do Therion, como eu e os The Robots.
O que você diria sobre o Christofer? Como ele é no dia a
dia? Nas gravações? O quanto ele mudou durante os anos em que esteve com você?
Durante as gravações ele é o mesmo de quando está fora
delas.
O quanto você mudou da época que o mundo te ouviu nos discos
do Therion pela primeira vez?
Eu engordei, fiquei careca, e fiquei mais inteligente. O
Therion me ajudou em todas essas categorias de mudanças. Acho que tocar com o
Therion abriu meus olhos e me ajudou a ver as possibilidades e a falta delas.
Gravar me deu uma rotina pro futuro, pra projetos similares.
Você não está na Therion Society...
Nunca ouvi sobre esse fênomeno. Não sei quanto custa, ou ao
que isso dá acesso. Não tenho idéia.
Hoje, mais graças a internet, os polonêses podem ouvir sua
participação em dois discos do Serpent - Autumn Ride e In The Garden Of
Serpent. Pode nos falar sobre eles? Compará-los? Fazer propaganda?
Acho que não serve pros fãs do Therion, não são pessoas com
gostos musicais muito amplos e não ficam felizes ouvindo música deliberadamente
feita pra ser primitiva e simples. A banda existiu de 1993 á 1997. Doom puro,
guitarra, baixo, a lamentação de Piotr. Parecido com St. Vitus, Obsessed,
Cathedral antigo.
Se estou certo, há um terceiro disco mas parece que não foi
lançado.
Foi um acidente; suas vítimas foram enterradas como
indigentes, túmulos não descritos no cemitério do esquecimento. Falando sério,
esse disco - mesmo que tivesse umas músicas boas - nunca será lançado porque
seu nível está abaixo da crítica.
Bem, o Serpent ainda existe?
Fizemos a terceira sessão de gravação no verão de 1999, e
desde o outono, não nos vemos muito freqüentemente. Não sei se o Serpent
ascenderá novamente. Tenho algumas idéias e vontade, mas o cara que quero que
toque junto comigo, baixista do "Autumn Ride" e do "Ho
Drakon" mora longe daqui - 900km ao norte de Estocolmo. Não quero tocar
com pessoas sem técnica e talento e tentar repor isso com entusiasmo e eles
acharem que é o bastante. Talvez lançaremos algo como um projeto. Eu gostaria.
Agora você está no The Robots. Que interessante, essa banda
gravou seu primeiro disco na Polônia, e você estava nessa gravação.
Toco no The Robots há 15 anos. É meu suporte musical
principal. Os caras dessa banda são como o suporte principal da minha vida, e
somos bons amigos. Eu conheci Mariusz do Carnage/Thrash'em All quando Lars
Rosemberg ganhou uma demo de Vader, muito antes de eles assinarem com o
Earache. Depois, eles moraram comigo e gravaram a primeira versão do disco
deles. Mariusz ouviu The Robots e isso o intrigou. No mesmo ano fomos a Olsztyn
gravar um disco.
Não muito tempo antes disso, "o sistema conhecido"
entrou em colapso. Que influência a liberdade da Polônia têve nos caras?
Alguns estavam na Polônia em 1990 quando as mudanças políticas foram feitas. Mas, por assim dizer, não houve mudanças quanto a cuidados com suprimentos. Eles ficaram felizes vendo nossa moeda corrente inflacionária, zloty - eles tiveram de pagar 10.000 por uma cerveja, enquanto tinham apenas 50 zlotys.
Olhando pras bandas em que você tocou, você sempre deixou a
bateria pra outra pessoa, e se preocupou apenas em cantar (com exceção dos The
Robots). Por que?
No Serpent, ninguém podia cantar. No começo eu tinha apenas
que cantar, mas tivemos que demitir nosso baterista, Patrick, por que ele era
tão bom na técnica que quis mostrar. Ele não se encaixou na nossa visão de
música. Ao vivo, tive que me levantar da cadeira e pegar o microfone, mas não
durou por muitos shows.
Você não apenas cantou e tocou bateria, mas também escreveu
as letras...
Elas sempre falaram de assuntos claustrofóbicos e andar nas
paredes. Era uma realidade deformada da vida suburbana entre apartamentos. Era
a saída da terra dos tóxicos.
The Robots tocam punk, Serpent era doom. Difícil descrever
Carbonized e Therion. Qual dessas bandas mais tem a ver com você musicalmente
falando?
The Robots, com certeza.
Falando sobre assuntos não relacionados á música, por que
você não mora na Polônia? Como aconteceu de você morar na Escandinávia?
Meu pai trabalhou aqui, eu o segui no meio dos anos 80.
Se você tivesse de comparar a Suécia com a Polônia, que
diferenças você mencionaria?
Paisagem, política, menos corrupção e o menos importante,
menos religiões doentias.
Falando sobre relações interpessoais - com quem você mais
gosta de trabalhar?
Acho que The Robots. Depois de 15 anos tocando, nem sempre
sem rixas, finalmente encontramos compreensão geral e consentimento artístico.
Com quem você mais gosta de beber?
Não tenho alguém em especial. Talvez depende do meu humor -
se eu quiser me lamentar, ou apenas beber e dizer alguma besteira.
Você terminou de estudar história - você trabalha como
professor, professor?
Estou terminando o doutorado, e a prova é em Dezembro.
Que música você ouve todos os dias?
Mais punk e algo parecido (Ramones, Dictators, Vibrators,
Turbonegro, Nomads) ou country (Johnny Cash, Merle Haggard, Flying Burrito
Brothers).
Posso te perguntar sobre preferências religisas?
Voodoo.
Tem algum filósofo, homem, algum trabalho que influenciou
sua filosofia de vida, o modo de olhar o mundo?
Jaroslaw Haszek - The Good Soldier Svejk.
Filme favorito, diretor, ator ou atriz?
Não sei. Nunca pensei nessas coisas. Mais fácil dizer o que
as pessoas não gostam. Por exemplo: "Sound of Music", Geena Davis,
espinhas.
Quais livros são inesquecíveis pra você?
"Emancypatki" de Prus... (Um romance Polonês -
Thor) Brincadeira. "Rivine-Rovno" de Irvaners - é uma visão obscura
do futuro da Ucrânia dividida em duas partes: a ocidental sobre as asas da ONU
e o oriente comunista. Não sei se esse livro foi lançado em Polonês ou não.
Algum tempo atrás, Karol Wojtyla morreu. O que você diria
sobre esse papa? Como você recebeu a morte dele e o que acha de toda essa
história dos Polonêses?
Eh...
Ah, ok. Veremos você na Polônia algum dia, por exemplo, com
o Therion?
Não com o Therion, acho. Talvez algum dia com The Robots.
Você participa das faixas bônus do SOTR e também nos discos
mais recentes. Você cantará no próximo disco?
Provavelmente não, mas não sei que conceito artístico o
Chris tem. Quando eu estava gravando vocais pros novos CDs, não foi fácil pra
mim porque não eu cantava há muito tempo.
Que planos para o futuro você tem?
Trabalhar cientificamente, passar tempo livre com minha
filha, lançar um novo CD com o The Robots em 2007.
Têm algo a dizer pros leitores?
Não tenho nada de interessante a dizer. Sugiro o silêncio,
que junto com o pensamento, têm o futuro.
8 de Janeiro de 2006
Autor: Thor
Traduzida por Paulo
Squarsoni
Comunidade brasileira do Therion no
orkut