Therion é um empreendimento de muito sucesso e na entrevista abaixo você terá a chance de descobrir como esse empreendimento chegou no topo. Christofer Johnsson provou ser um cara muito interessante de se conversar, disposto a dar entrevista apesar de sua agenda ocupadíssima. Curtam!
Metalfan: Olá, e bem vindo ao site Metalfan! Como estão sendo esses dias?
Estressantes com muitas coisas a fazer.
Vocês acabaram de lançar um novo disco de estúdio, Gothic Kabbalah. Poderia por favor nos dizer sobre os comentários que ele recebeu das revistas e dos fãs?
Como sempre em cada disco novo do Therion existem reações diferentes, fãs mais velhos preferindo o velho som e outros preferindo a nova direção. A maioria foi muito positiva, entretanto.
Muitas pessoas provavelmente achariam o nome do novo disco bem controverso. O que o fez escolher e qual a história por trás dele? O Gothic Kabbalah é um disco conceitual?
Ele é um pouco controverso mesmo, mas realmente esse é o nome mais abstrato que o Therion já têve, essa é a coisa legal nele. Pessoas sem conhecimento das coisas que cantamos pensam que ele é o nome de disco mais na moda imaginavelmente, enquanto ele é de fato um disco conceitual sobre uma tradição esotérica, e pouquíssimas pessoas sabem sobre a margem entre runosofia e cabala que Johannes Bureus inventou há alguns 400 anos atrás. O conceito é sobre Bureus, vida, visões, ensinamentos e idéias.
O novo disco mostra levemente um caminho musical diferente. Acho que é mais influenciado pelo hard rock/progressivo dos anos 70. Os vocais estão bem diferentes também. Qual a sua opinião sobre o resultado disso tudo?
Você está totalmente certo; essas foram as influências dessa vez (entre outras). Os vocais foram um experimento; misturar cantores de rock com cantores clássicos nos mesmos exemplos vocais e fazer cantores de rock cantarem melodias originalmente feitas para cantores de ópera. Alguns adoraram, outros não. Pra gente foi legal tentar algo diferente do que fizemos nos últimos 10 anos.
O que um músico sente quando suas criações entram nas paradas de sucesso em quase toda a Europa?
Posso apenas falar por mim e pelo Therion. Não pensamos muito nisso na verdade. Ficar numa parada por uma ou duas semanas apenas significa que uma quantidade certa de pessoas compraram o disco por esse período. São as vendas depois de 6 mêses (ou um ano) que realmente dirão a você quanto sucesso o disco têve (ou 10 anos depois, nossos discos do Theli em diante ainda vendem depois de todos esses anos).
Mats Levén é bastante renomado por suas antigas colaborações com o Abstrakt Algebra e com o Yngwie Malmsteen (entre outros). Poderia por favor nos dizer como você chegou a trabalhar com ele?
Johan Niemann toca numa banda cover junto com ele e nós também tínhamos outros amigos em comum. Eu, claro, conhecia as perfomances vocais do Mats nos discos desde muitos anos, mas quando fui ver a banda cover ao vivo e o vi fazer tantos estilos diferentes no palco em uma única noite, percebi que seria interessante ele trabalhar no Therion. E eu estava certo; passamos muito tempo de boa co-operação.
O Mats Levén tem alguma outra contribuição nos últimos dois discos, além de cantar?
Sim, no Gothic Kabbalah ele também ajudou na composição de algumas músicas e nos ajudou também com alguns arranjos.
Snowy Shaw, outra lenda do metal, cantou no Gothic Kabbalah. De que modo a experiência musical/de produção dele ajudou o Therion?
Ele é um cara bastante multi-talentoso e desenhou o palco todo que usamos na Europa. Também as roupas foram parcialmente desenhadas por ele. Como Mats ele pode cantar com milhares de vozes diferentes e ele usa muitas delas com o Therion.
Durante os últimos anos vocês passaram pela Romênia por 2 shows, o último deles com orquestra. Quais eram seus sentimentos antes desses shows e quais seus sentimentos agora?
Eu sabia que seria o desafio mais difícil da minha vida até mesmo subsistir esse projeto e eu estava totalmente certo. Foi uma prova de fogo. Depois disso fiquei apenas feliz por termos conseguido passar por tudo isso muito bem, haviam tantas dificuldades. Ter Uli Jon Roth lá como um convidado e como conselheiro nos animou muito e seus conselhos se mostraram extremamente úteis quando fizemos esse tipo de show novamente na Hungria mês passado.
Olhando na discografia oficial do Therion eu notei que uma coisa parece estar lá desde o começo de tudo, Nuclear Blast Records. Como vocês mantiveram por tanto tempo esse "casamento" com ela?
Tínhamos muitos problemas no começo e nossos primeiros 5 discos (incluindo o limitado e hoje muito raro mini disco Time Shall Tell) foram lançados em 5 gravadores diferentes. Algumas gravadoras pelas quais passamos eram ruins, mas tinham recursos, outras eram péssimas em cada aspecto. Uma tinha boas intenções e entendimento de música, mas nenhum dinheiro - Com a NB nós finalmente terminamos com uma equipe de pessoas que realmente viveram pela música com que eles trabalhavam e também tinham muito dinheiro. Brigamos e tivemos muito problemas no começo, mas desde 1998, temos uma relação que muitas bandas apenas sonham em ter.
Therion poderia ser fácilmente considerado como um empreendimento de muito sucesso. O que é preciso para chegar no topo, além do talento?
Em termos de venda e levar as pessoas pros shows, somos bem sucedidos em alguns lugares na Europa e por toda a América Latina. Em algumas outras partes da Europa somos bem grandes, mas não tão bem sucedidos como nos outros lugares. Nos EUA, Canada e Japão temos uma base de fãs muito leal, mas nós nunca conseguimos chegar perto da popularidade que temos na América Latina e na Europa. Inovação e fazer o que você quer é a receita. Aqueles que tentam muito soar como os outros, podem ter algum sucesso temporário, mas ninguém se lembrará deles 20 anos depois. Posso citar muitas bandas e artistas dos anos 70 e 80 que venderam muito bem mas que pouquíssimas pessoas conhecem ou se importam hoje em dia. Therion ainda está mais ou menos no mesmo nível de quando estouramos com o Theli em 1996, estou muito feliz com isso e vejo isso como prova de nosso empenho e isso é muito gratificante.
Agora vou perguntar a você uma coisa bem polêmica. Sabemos que seus discos vendem muito bem (pra uma banda de metal). Você já fez algo não relacionado com a música? Se sim, o quão importante é a parte financeira do trabalho pra você?
Não é uma pergunta polêmica por aqui; todos falam sobre isso, de qualquer forma todo músico sonha poder trabalhar todo o tempo com música. Muitas bandas poderiam ter feito isso, mas não o fizeram porque não tinham tanto talento nos negócios quanto na música. Tenho sorte de ter uma cabeça pra negócios também e mesmo assim eu também cometi alguns erros clássicos no começo, eu vivo da música desde 1992. No começo eu fiz muito pouco claro e ainda vivia com meus pais. Em 1993 eu me mudei para um apartamento de 2 cômodos e passei muito aperto por alguns anos, só quando o Theli foi lançado que comecei a ganhar o mesmo que ganharia num emprego comum e com o enorme sucesso do Vovin comecei a ganhar mais do que num emprego comum. Fui muito sábio entretanto guardando e investindo dinheiro de um bom modo. Você não pode contar que uma coisa dure para sempre e por viver de modo simples e normal ao invés de viver como um rock star tenho um pouquinho de segurança ecônomica daqui em diante. A maioria dos músicos que conheço pensam muito no hoje e talvez até no próximo ano, mas eu gosto de planejar o futuro, 5-10 anos, e isso têm dado certo. Se você está com fome e tem uma batata você pode cozinha-la e come-la. Mas você pode também planta-la ao invés disso e você terá no fim muitas batatas pro resto de sua vida. Use "batata" como exemplo do que faço e você vai compreender.
Como você explicaria o sucesso do metal melódico no Japão? O Japão é um bom mercado pro metal?
O Japão sempre foi um mistério totalmente diferenciado. As modas do resto do mundo influenciam muito pouco no Japão. Eu realmente respeito isso mesmo que queira dizer que o Therion não alcançou o mesmo nível de sucesso lá como por exemplo na Europa. O Japão é realmente um mercado muito importante pra bandas de metal e para algumas bandas de melódico daqui é mais ou menos o ÚNICO mercado que elas têm. Algumas bandas dos anos 80 que se juntaram novamente apenas conseguiram lançar seus discos no Japão na verdade (as pessoas esqueceram delas aqui)
Qual foi a última vez que você ouviu um dos seus discos antigos? O que você acha, digamos assim, do Lepacca Kliffoth e do Of Darkness?
Uma vez a cada 1 ou 2 anos eu fico nostálgico e ouço o catálogo todo sentado sozinho em casa. Cada disco têm seus erros e acertos, mas no geral tenho orgulho de cada disco pela maneira com que foram criados. O Of Darkness por exemplo têve um orçamento de 100 euros (que era mixaria mesmo nos anos 90), esse é o preço para tunar a guitarra naqueles estúdios em que gravamos recentemente.
Qual foi sua maior realização, como ser humano no geral e como um músico em especial?
Conseguir me DIVERTIR depois de todos esses anos. (risos)
Eu comecei a fazer música porque gostava muito e nos divertiamos muito em 1987 quando nós mais ou menos tentamos aprender como tocarmos juntos na banda Blitzkrieg (que depois tornou-se Therion) e ainda hoje depois de 20 anos curto muito tocar (tanto ensaiar como estar no palco). Isso junto com conseguir fazer com que tantos ouvintes e também outras bandas percebam o quão bem a opera combina com o metal e com o rock eu acho que são bastantes comoventes.
Eu sei que você gravou os vocais para um disco do Messiah A.D. (primeiro nome dessa lenda do death metal, Messiah) em 1994. O que você poderia nos dizer sobre isso?
O Therion não estava fazendo muita coisa em 1994 e eu estava sem dinheiro, então na verdade veio muito a calhar me divertir com alguma coisa mesmo que não tenha ganhado muito, ao menos foi algo quando eu não tinha nada. Eu conheci o Messiah num festival polonês em 1992 e depois eles organizaram um show do Therion pra gente na Suiça em 1993 e eu cheguei a conhece-los pessoalmente. Um dia eles me pediram pra cantar no novo disco deles, porque eles não achavam um substituto do cara que acabara de sair da banda. Eu aceitei e no fim nós também fizemos alguns shows. Fizemos um disco muito original, mas vendeu muito pouco e não agradou os velhos fãs (a capa esquisita do disco também não ajudou muito, ha ha), então a banda se separou.
Você gostaria de lançar outro disco death metal no futuro? De fato, qual sua opinião sobre death metal no geral?
Fizemos esse disco com a banda Demonoid uns anos atrás. Foi legal e acho que fizemos um ótimo disco. Pela falta de tempo eu dedici não continuar com isso entretanto, e os outros caras vão continuar com outro cantor. Death Metal pra mim significa frustração adolescente que precisa ser canalizada pela música. Por tocar Death Metal, me tornei uma pessoa muito harmônica. Engraçado que o estilo de música pode permanecer, mas eu tenho muito pouco interesse no que acontece hoje. Se eu de repente quiser ouvir música agressiva, eu colocaria algum disco velho com Autopsy, Death, Celtic Frost, Bathory e similares.
O que você poderia dizer pros nossos leitores sobre seu envolvimento na Dragon Rouge da Suécia? Como algum interessado pode se tornar um membro dessa orgnização?
Eu entrei em Janeiro de 1992 e a ajudei a crescer desde então. Eu entretanto não acho apropriado falar sobre isso numa entrevista sobre o Therion, como também é geralmente totalmente equivocado fazer conexões entre Therion e a Dragon Rouge, o que não é o caso (eu nunca tentei promover a ordem com a banda e não tenho interesse em trazer membros mais interessados no Therion que no esoterismo). Ao invés disso, por favor acesse a página oficial da ordem para mais informações. www.dragonrouge.net
Obrigado pelo seu tempo e boa sorte no futuro. As palavras finais são suas!
Nunca fui bom nisso...
Entrevista feita por Sake, 7 de Agosto de 2007
Metalfan.ro
Traduzida por Paulo Squarsoni
Comunidade brasileira do Therion no orkut